Conhecer os processos de mudança de comportamento podem ser muito úteis para auxiliar a conduta da/o nutricionista junto ao/à paciente. Você já parou para pensar quais são os cinco estágios no processo de mudança de comportamentos de saúde, segundo o Modelo Transteórico, ou Modelo de Estágios da Mudança, proposto por James Prochaska e Carlo DiClemente?
BORDIN, Jaqueline Cristine; RODRIGUES, Ana Claudia; FAUNE, Tatiana Aparecida. Psicologia Aplicada à Saúde. Maringá - PR: Unicesumar, 2022.
Observe os estágios acima comentados.
Estágio 1: pré-contemplação. Neste estágio, a pessoa não apresenta uma intenção séria de mudar o próprio comportamento, e, em muitos casos, nem acredita que tenha um problema perante atitudes, embora as pessoas com as quais convive possam apontá-lo. Essa pessoa pode até procurar tratamento, quando pressionada por outros, mas não segue ou mantém as orientações.
Estágio 2: contemplação. Aqui, a pessoa está ciente de que tem um problema, mas não tem a intenção imediata de mudar os próprios hábitos. A grande maioria das pessoas se encontra nesse estágio, e algumas podem permanecer nele por anos.
Estágio 3: preparação. Enfim, surge uma pessoa com a intenção de mudar o comportamento, o que envolve pensamentos, planos e ações, mas que, ainda, não consegue efetuar a mudança de forma efetiva.
Estágio 4: Ação. Então, a mudança acontece. A pessoa se engaja e se compromete, a fim de alterar o próprio estilo de vida. Ela dispende energia para superar o problema.
Estágio 5: Manutenção. Por fim, a pessoa continua a obter bons resultados e passa a agir, de forma preventiva, para conseguir alcançar o objetivo final.
Imagine que você é um/a nutricionista e recebe, em seu consultório particular, um paciente de 16 anos, acompanhado de sua mãe, cuja queixa inicial é a de que não consegue emagrecer. Durante o atendimento, o jovem com sobrepeso permanece a maior parte do tempo cabisbaixo, calado, respondendo com poucas palavras suas perguntas sobre seus hábitos alimentares, rotina e motivações. Sua mãe é quem interage mais com você, respondendo pelo filho. Você fica com a impressão, ao final da entrevista, que o jovem, apesar de incomodado com seu estado atual, não está realmente implicado com a mudança, parecendo pouco motivado a seguir um tratamento. Ainda, relata gostar de alimentos fontes de leite, massas e poucas frutas.
Tendo em mente o Modelo dos Estágios de Mudança, ao invés de simplesmente considerar que o adolescente não está preparado para passar pelo processo de reeducação alimentar, mudança de hábitos e, consequentemente, melhorar sua saúde e qualidade de vida, você compreende que os processos de mudança dos comportamentos em saúde não são simples, mas passam por diferentes estágios. Nesta primeira entrevista, fica evidente que o jovem se encontra no primeiro estágio, que é denominado de pré- contemplação.
Agora é sua vez de agir:
Tome os cinco estágios propostos pelo Modelo Transteórico, ou Modelo de Estágios de Mudança de Prochaska e DiClemente, e, considerando como o nosso paciente se comporta em cada uma das etapas (conforme descrito abaixo), responda em forma de texto, com base na teoria, quais devem ser suas atitudes enquanto profissional de nutrição de acordo com cada estágio.
Para finalizar, sugira uma opção de café da manhã que possa ser adequada a este paciente. (A refeição pode ser genérica, mas é importante que seja equilibrada em macronutrientes, sem necessidade de conter quantidades ou kcal).
Estágio 1-pré-contemplação: nosso paciente, apesar de incomodado com seu sobrepeso, admite, em uma segunda consulta, que só está procurando ajuda profissional por pressão da sua mãe, já que a mesma foi comunicada pela escola do filho de que ele foi alvo de bullying devido à sua aparência física (sobrepeso). Ele afirma que nem se importa com o que dizem a seu respeito, mas se sente isolado e sem amigos. Também se queixa de dificuldades em executar pequenas atividades cotidianas (caminhar, subir escadas, realizar esportes no horário da educação física), mas não relaciona isso ao sobrepeso.
Estágio 2-contemplação: nessa fase, o adolescente compreende que possui um problema de saúde, mas, apesar disso, não quer mudar seus hábitos atuais, que incluem sedentarismo e hábitos alimentares perniciosos (excesso de lanches, refrigerantes e produtos industrializados e ausência de legumes e vegetais em suas refeições).
Estágio 3-preparação: nosso jovem finalmente quer mudar para atingir seus objetivos, mas não sabe por onde começar, e conta com sua ajuda.
Estágio 4-ação. o adolescente se engaja no processo de mudança de comportamentos em prol de sua saúde. Sua atuação profissional, nesse momento, é fundamental para que o jovem saiba lidar com os desafios que toda mudança acarreta.
Estágio 5-manutenção: o adolescente já consegue manter os novos hábitos de saúde de maneira mais permanente.
É importante considerar que, de acordo com esse modelo, as pessoas não passam de um estágio a outro de maneira progressiva, linear, mas passam por momentos de avanços e retrocessos, até completar a mudança de maneira consistente. Assim, nosso jovem pode estar em uma determinada etapa e passar por algum processo de recaída ou desistência, o que não significa fracasso do processo terapêutico, mas uma oportunidade de aprendizagem e reavaliação das estratégias.